sexta-feira, 20 de junho de 2014

UM ENSAIO DE VIANNEY MESQUITA


ESTRUTURA DO SONETO Aos Pesquisadores Científicos

Vianney Mesquita*

A ciência é o cemitério das ideias mortas (Miguel de Unamuno y Jugo. * Bilbao, 29.09.1864; + Salamanca, 31.12.1936).

O poema seguinte foi elaborado na grade métrica do soneto, ideação poética de quatro estâncias - dois quartetos e dois tercetos, perfazendo catorze versos – com várias possibilidades de localização das rimas.
 Constitui homenagem àqueles que, diuturnamente, buscam respostas para as manifestações precisas da Natureza e de seus entes, sob a totalidade de ângulos de exame, configuradas na atividade científica, isto é, a procura atentiva e aprofundada de algo que não é notório, ou cujo conhecimento, deseixado de profundez e explicações plausíveis, é pautado na chamada communis opinio ou senso comum.
Sejam benditos os pesquisadores
Com seus rigores a buscar verdades;
Capacidades de interlocutores.
E de ouvidores de obscuridades.

Ao perquirir tão insondáveis fatos,
Cujos relatos pedem teorias,
Por essas vias, os feitos transatos
Têm, mais que atos, metodologias.

Neste exercício de sabedoria,
Ao revelar seus faustos de vivência,
Tranquilidade e douta teimosia,

É demonstrado em toda a percuciência
Extasiando o mundo, que aprecia
Um vivaz operário da ciência.

O entrecho poético ocorreu sob inspiração do relatório final da primeira pós-graduação stricto sensu da hoje professora doutora Maria MARLENE Lopes CIDRACK (Educação em Saúde - UNIFOR), detentora de uma cátedra de membra-titular (*) da Academia Cearense de Odontologia.
 Para obter o título de mestre (ela é mestrA, mas o título é de mestrE), compôs um verdadeiro paradigma de ensaio acadêmico, o qual muito me impressionou, a igual do ocorrido há quatro anos, quando defendeu tese de doutoramento na Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Educação, com base na história do antigo SAPS, no Jacarecanga-Fortaleza (Escola de Nutrição Agnes June Leith),  concedendo ensejo à publicação do livro Visitadoras de Alimentação, editado pela Universidade Federal do Ceará (Edições UFC).
A estrutura métrica desde soneto assenta em versos decassilábicos portugueses quase-sáficos, com ictos na quarta, às vezes na oitava, e na décima de cada linha das duas primeiras estâncias. Nestas, as rimas estão nos primeiros com os terceiros e nos segundos com os quartos versos.
 Usei, no feitio desta composição supostamente petrarquiana (Francesco Petrarca -1304-1374), de não consoar os quartetos – o que representa uma opção autoral – porém é de relevância proceder a esta consonância.
 Entrementes, nos trísticos, o primeiro verso do primo terceto rima com o seu terceiro e com a segunda linha do segundo. Por sua vez, o segundo verso do primeiro trístico faz rimas com o primeiro e o terceiro do segundo terceto, ao passo que o primeiro e o terço versos do primeiro grupo de três corresponde em som rimado ao segundo verso do derradeiro terceto.
Destaco, neste comenos, o emprego da rima encadeada – atualmente bem mais rara – nas linhas versificadas das estrofes quádruplas, o que confere mais estesia à composição.


(*) Embora de lícita aplicação, membra é feminino muito pouco empregado no Brasil.