quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

POEMA DE ÍTALO GURGEL



“Vou-me embora pra Pasárgada...”
(Manoel Bandeira)

 Vou-me embora, vou pro mar

Italo Gurgel

Quero as ondas do Havaí,
Coqueiros de Waikiki,
Guirlandas de Honolulu.

Quero as tintas de Gauguin
Nos pincéis do Taiti:
Seus vermelhos e amarelos,
Suas dores, seus amores.

Quero alfombras de Samoa
E a moça com ventarola
Que espanta maus olhares.

Quero em Tonga repousar
À sombra do arco-íris,
Debaixo dos girassóis
(Lá sou vizinho do rei
E seu fiel escudeiro).

Quero acordar, um domingo,
Com os ventos de Vanuatu
E os tufões de Tuvalu
Varrendo para bem longe
As bombas de Moruroa.
(Nesse dia, em revoada,
Fragatas radioativas
Pousarão na Torre Eiffel.)

Quero um voo kamikaze
Despejando serpentinas
E flores de Bougainville
Nos céus de Guadalcanal.

Quero a paz em Iwo Jima,
E o silêncio dos clarins
Nos corais de Midway.

Quero oceano pacífico
– Outra civilização –
Sem heróis, sem generais,
Espadas ou galardões.

Quero as tardes de Nauru,
As noites da Caledônia,
As tentações, os desejos,
Até os mais proibidos.

Quero amar sem reticências,
Resistências ou pudores,
Numa alcova bem singela:
Os lençóis são de cambraia
A rede de lantejoulas.