quinta-feira, 9 de outubro de 2014

MAIS UMA OBRA DE VIANNEY MESQUITA



NUNTIA MORATA
   Dimas Macedo 

                       O gozo do signo é, talvez, o ponto mais alto para o qual aponta a ordem do discurso. Os caminhos da linguagem são intrincados, e por qualquer atalho terminamos sempre em um labirinto. O símbolo não liberta a linguagem do seu absoluto; antes, ele a transforma em prisioneira do mistério.
              Dois planos de compreensão do mundo e do homem existem no campo da crítica literária: o prazer da leitura e a sua reconstrução e utilidade, tendo-se na intuição e na sensibilidade do crítico os seus elementos de maior alcance.
              A crítica é o gênero mais alto de todas as formas de criação. É poética no sentido aristotélico e nos usos que lhe foram dados pela invenção do ensaio e pela dialética com que os códigos literários foram reabertos a partir da Idade Moderna.
              O Poema, a forma literária mais retrabalhada ou reconstruída durante o curso da história, somente chegou até nós, acredito, porque a crítica intuiu a perspectiva da sua morfologia e da sua semântica, deixando para a linguística os seus elementos de ordem sociológica.
              O exercício da crítica literária exige erudição e domínio do conhecimento de quem se aventura pela sua seara, por sua sedução prazerosa e pela sua pluralidade de sentidos. Não podemos comparar a crítica com os comentários apressados e com as resenhas corriqueiras de jornais e revistas.
              A produção da crítica exige do seu autor o seu fervor analítico, a sua perspectiva sócio-literária, a sua visão de conjuntura e a sua formação no campo da cultura artística, associada ao rigor do método.
             Vianey Mesquita, o autor de Nuntia Morata – Ensaios e Recensões (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2014), é um dos melhores críticos literários que conheço. Arquiteto a Posteriori da criação literária e mestre nos domínios da correção da língua e da gramática, no Ceará poucos a ele se igualam em erudição e humildade diante das estruturas do texto.
              Hermeneuta da Literatura por imperativo da sua formação, é um decifrador humorado do texto literário ou do texto científico que desvela, pois não lhe faltam argúcia e preparo para enfrentar os diversos códigos da linguagem.
              Enquanto escritor, Vianey Mesquita prima pela correção gramatical, mas é sagaz com os recursos do seu golpe de vista, restaurando a precisão do método e a analogia filosófica e científica da escritura acadêmica por ele examinada.
              A sobreleitura do texto literário, sociológico, filosófico ou científico por ele empreendida, encontra-se permeada de um fino lavor artesanal, revestida da melhor recepção e rematada pela estética da síntese e da claridade, e tanto mais escandida pelo gozo do signo e da pontuação.

                  E de forma que Nuntia Morata, a sua nova coroa de ensaios, é a escansão melódica do seu estro, porque de música e de estilo primoroso são costuradas as suas intenções e remarcadas as suas entrelinhas.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

HOMENAGEM AOS 37 ANOS DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA CEARENSE DA LÍNGUA PORTUGUESA - EM 28 DE OUTUBRO DE 2014


ODE À LÍNGUA PORTUGUESA *
JOSÉ ALBANO**



Língua minha, se agora a minha voz levanto
Pedindo à Musa que me inspire e ajude
Somente soe em teu louvor o canto,
Inda que a lira seja fraca e rude:
E tudo quanto sinto na alma, e digo,
Já que na alma não cabe,
Contigo viva e acabe – só contigo.

Língua minha dulcíssona e canora,
Em que mel com aroma se mistura,
Agora leda, lastimosa agora,
Mas não isenta nunca de brandura;
Língua do gram Camões, a que ele ensina
A sinfonia rara,
Que em tudo se compara – co´a latina.

Língua, na qual eu suspirei primeiro,
Confessando que amava, às auras mansas
E agora choro, à sombra do salgueiro,
Os meus passados sonhos e esperanças;
Na qual me fez outrora venturoso
Aquela doce fala,
Que somente escutá-la – me era um gozo.

Língua em que o meu Amor falou de Amores
Em que d'Amores sempre andei cantando,
Em que modulo os mais encantadores
E deleitosos sons de quando em quando,
E espalho acentos inda nunca ouvidos,
De mágoas e de gozos,
Murmúrios amorosos – e gemidos.

Sempre e sempre te eu veja meiga e pura,
Naquela singeleza primitiva,
Naquela verdadeira formosura,
Que farei que no verso meu reviva;
E se apenas ao mundo se revela
Um pouco desse encanto,
Há-de mostrar-lhe quanto – és rica e bela.

Outros andam o teu sublime aspeito
De ornamentos estranhos encobrindo,
Ocultando o que tens de mais perfeito
E de mais precioso e de mais lindo:
Como direi que és tu? Triste, o duvido,
E não te reconheço,
Se o teu valor e preço – jaz perdido.

Quanta e quamanha dor me surge e nasce
De nunca ouvir aquele antigo estilo;
Mas eu fiz que ele aqui se renovasse
Para que o mundo agora possa ouvi-lo.
E com todo o poder de engenho e arte
Foi sempre o meu desejo
Ver-te qual te ora vejo – e celebrar-te.

Ah! como assim me agradas e me encantas,
Suavissimamente  assim gemendo;
E se te outros ofendem vezes tantas,
Embora solitário, eu te defendo:
Eu te defenderei sem ter descanso
E em luta não inglória,
Tu verás que a vitória – e a palma alcanço.

E em paga disto, peço-te que exprimas
Quanto neste meu peito vive e mora:
Dá-me versos dulcíssimos e rimas
Cheias de branda música sonora,
Dá-me uma voz melodiosa e amena,
Para que eu noute e dia
Cante minha alegria – ou minha pena.

E não quero um som alto e retumbante
Para cantar de Amor ao mundo atento,
Pois não há língua que de Amor não cante,
Mas nenhuma traduz o meu tormento;
Nenhuma se conhece em que traslade,
Senão em ti somente,
Do coração doente – a Saudade.


* Antologia Poética de José Albano : 30/04/2010

Sobre o autor
** José Albano, (Fortaleza, 1882 — Montauban, França, 1923) foi um poeta brasileiro. Estudou em várias escolas da Europa, mas é no Brasil que inicia o curso de Direito que não conclui, dedicando-se, posteriormente, ao ensino no Latim. Teve ainda uma breve carreira no Ministério das Relações Exteriores, que viria também a abandonar para viajar pelo mundo. Da sua obra poética podemos contar com Rimas de José Albano – Cançam e Camoens (1912), Antologia Poética de José Albano (1918).



sábado, 4 de outubro de 2014

UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES - UBT- FORTALEZA



                 
TROVAS DE NOSSOS MEMBROS
TITULARES E COLABORADORES

Teus olhos, ardentes círios,
meus dias tornam risonhos,
e tuas mãos, brancos lírios,
vão modelando meus sonhos.
GISELDA MEDEIROS.

2.
Se a revolta me alucina
e a solidão me consome,
a saudade sempre assina
meu nome sobre o teu nome.
LEDA COSTA LIMA.

3.
Minha pena corre forte
ao sabor deste papel
até parece que a sorte
vai levar-me para o céu.
NEIDE AZEVEDO LOPES.

4.
Juventude, na verdade, 
existe dentro de mim,
no acalentar da saudade,
dos sonhos idos, sem fim.
FRANCINETE AZEVEDO.

5.
Tenho gritado por tudo
pela mamãe e o papai
o que me arrasa contudo
é meu grito que não sai.
WALDIR RODRIGUES.

6.
No brilho do teu olhar
numa expressão tão discreta
descubro quase a sonhar
este amor que me completa.
VICENTE ALENCAR.

7.
Eu sempre agi com prudência, 
às vezes me fiz de mouco,
por capricho e até decência,
ouvi muito e falei pouco.
GUTEMBERG ANDRADE.

8.
Minha mãe fazendo renda,
meu pai de chapéu de massa,
tudo passa nesta vida,
só a saudade não passa.
CÉSAR COELHO.

9.
Eu sou poeta da vida,
do bem, do amor, da saudade,
da fé sentida e vivida,
da santa e eterna verdade!
ALOÍSIO BEZERRA.

10.
Tenho uma grande ambição
é poder ser mais amado,
sinto no peito emoção,
e estar bem, sempre ao teu lado.
VITAL ARRUDA.

11. 
Teu doce olhar enternece, 
qual um mar calmo - mareja:
é a paz ungida de prece
no silêncio de uma igreja!
FERNANDO CÂNCIO DE ARAÚJO.

12.
Que você, saudade, fale
dela - barco do meu porto,
rio manso do meu vale,
berço do meu sonho morto!
BATISTA SOARES.

(Fundada em 11 de novembro de 1969)



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

UM POEMA DE REGINA BARROS LEAL



DELÍRIO
Regina Barros Leal

Tão diferente do ontem!
O hoje se transformando no amanhã.
Artimanhas do tempo!
 E eu o espreito.
Busco desvendar o insondável mistério do infinito
Mas não cabe no finito de minha compreensão
Sonho e em cada sonho
Eu me vejo surpreendida pelo inexplicável
Ao adentrar o imaginário, encontro minhas loucas fantasias!
Brinco com as estrelas e escorrego nas lâminas do raio fulgurante
A luminosidade espalha-se na imensidão do mundo!
 Choro de alegria e exultante canto a natureza
Envolta no véu, rasgo as vestes frágeis do ceticismo que me obstrui a visão.
Limpo a areia dos meus olhos lacrimejantes e vejo as cores do universo
Não consigo segurar as rédeas de minha ilusão!
Um dia eu tocarei os ventos!

Quem sabe?