terça-feira, 1 de outubro de 2013

UM OLHAR SOBRE CARLOS D'ALGE - GISELDA MEDEIROS



O Objeto Ausente

                    O prestigiado Escritor, Ensaísta, Poeta, Jornalista e Professor Carlos D’Alge vem de lançar, em elegantíssima noite no Centro Cultural Oboé, mais um de seus livros. Trata-se, agora, de O Objeto Ausente (Fortaleza, Editora ABC, 2003), obra que nos chega não para provocar polêmica, mas para provar e comprovar o talento desse homem que, sendo grande, bem maior se tornou pela coragem de levar a público seus dramas pessoais, desnudando-se completamente, deixando sobre si apenas a túnica da verdade, esta que o conduz durante todo o processo narrativo da obra.
                   Quem teve ou ainda tem o prazer de compartilhar da amizade de Carlos D’Alge, e beber dele a sabedoria e a experiência advindas do manancial de sua inteligência, pode julgar-se verdadeiramente um privilegiado. 
                   Sendo ser humano em toda a extensão do termo, não poderia ele, porém, passar incólume sobre este chão pedregoso da vida, sem ferir-se e, em assim sendo, ferir também, embora de maneira involuntária, aqueles que lhe estiveram ou lhe estão ao redor. Entretanto, jamais permitiu que ninguém ultrajasse com gestos ou palavras as pessoas que ama, pois o seu caráter, a sua formação ética falam muito mais alto que toda a pequenez dos invejosos.
                   Neste livro, Carlos D’Alge afirma, mais uma vez, que a sua escrita é uma verdadeira epifania, na qual ele se vai doando, em festa, ao banquete do leitor. E quanto mais se o vai lendo mais gostoso vai sendo o ato da leitura, isto por que o seu texto viabiliza o conhecimento de si, do outro e do mundo. Profundamente cuidadoso na linguagem, que aparece supimpamente trabalhada, ele demonstra ainda maior a discrição em não revelando nome das pessoas envolvidas em sua trama amorosa, evitando desse modo qualquer constrangimento para as personagens.
                   Seu drama não é menor nem maior que o de muita gente. Por isso, o leitor vai, aqui e ali, identificando-se com particularidades das vivências do autor, mesmo por que quem nunca se deixou levar pela ardência de uma paixão? Quem nunca teve de tomar decisões que a outrem pareceriam pura loucura? Se ainda não, certamente fá-lo-ão um dia. Eis por que concordamos com ele quando diz: Sem paixão não existimos, deambulamos, e só.
                   Mas, o livro não trata apenas da narrativa de seus amores, de suas paixões,  das crises de depressão que o atormentaram, das doenças, da dissolução matrimonial. Há a história de uma vida coroada de êxito, de uma vida dedicada ao trabalho, à literatura, ao jornalismo, aos amigos que fez nesta terra de Iracema, à família. É uma maneira que ele encontrou para dar satisfações suas ao leitor, dentro daquele princípio que sempre lhe norteou a vida, ou seja, o de fugir à mentira, ao fingimento, às especulações dos que alardeiam um falso moralismo. Carlos D’Alge é transparente e, de conformidade com Adélia Prado, coloca o sentimento “como a coisa mais fina do mundo”. Como artista que o é, não poderia ser diferente. Escrever é um ato de verdadeira entrega ao sentimento, e é este que move as pessoas, que dá colorido ao mundo, que torna poética a vida. Só a beleza salvará o mundo, diz Dostoievski.
                   Enfim, Carlos D’Alge, munido do prazer aliciante da palavra, constrói em O Objeto Ausente um mundo onde a sinceridade se faz presente em todos os sentidos, e a verdade se planta em todos os ventos que, alvissareiros, vão-lhe invadindo o coração numa canção de amor à vida, buscando o objeto amado que se fez ausente na fúria dos desencontros e conflitos humanos.
                   E, para concluir esta modesta apreciação, lembramos-lhe o patrício Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes”. Assim é Carlos D’Alge.

Giselda Medeiros - in Crítica Reunida