terça-feira, 16 de julho de 2013

REGINA BARROS LEAL - CRÔNICA DO DIA



RELATO

                  Madrugada!  Letícia impulsionada pelo desejo de escrever deixa as mãos digitarem com frenesi. Sua cabeça fervilha de ideias e se apodera do tempo rememorando fatos, situações. Surgem recordações imprudentes e impudentes que dão à narrativa o tom do pecado, do proibido, da cobiça camuflada, como se fossem esconderijos das estreitas ruas de cidades exóticas, de labirintos intermináveis. Lembra Hades, o deus grego, em seus intermináveis subterrâneos. Nesse itinerário do não explícito, do invisível, do anônimo, do bizarro, expressa, à sua maneira, anseios, segredos, subjetividade, subjetivação e singularidades. Percorre o imaginário encontrando o passado vivido. Materializa-o, toma forma, ora provisória, lacunar, fragmentada e imprevisível, ora totalizante, holística e plena.
                 Deste modo, sua escrita trilha o caminho da inspiração, da fantasia, do imponderável, das descobertas, escapando dos desvios que surgem inesperados e das ruelas traiçoeiras da vulgaridade. Rememorar a vida a encanta e assim ela o faz sem resvalar para um saudosismo obsessivo. Escrever torna-se um desejo constante, uma atração arrebatadora, uma curiosidade queimante. Através da narrativa, abre fendas no tempo e caminha pelos labirintos sedutores da memória, sem aflição. Persiste em sua aventura, impulsionada pelo desejo de reviver estórias exultantes, fatos simples, pessoas marcantes, os ternos amores e as paixões proibidas. Ah! As paixões que estonteiam, marcam a existência e arrebatam sentimentos incógnitos, abismais. São como brumas densas, penachos de fumaça, bosques virgens, caminhos desconhecidos, soando, às vezes, como borrascas e ou terremotos súbitos e devastadores.

                 Letícia alça voos e, brincando de fada, transforma sapos em príncipes, burros em cavalos alazões, casebres em castelos encantados. Narra estórias sobre o cotidiano, chora partidas, relata episódios e espreita o passado, através do olhar observante do seu presente.  Às vezes, seu coração se avermelha, sangra com a dor do amigo e se regozija pelo sucesso de pessoas que alcançaram seus sonhos e cantam a vida.