quinta-feira, 25 de julho de 2013

SALVE O ESCRITOR!


25 de julho - Dia do Escritor.
A ele nossa homenagem neste poema: 

O POEMA E A EMOÇÃO
Giselda Medeiros
  
                   Não quero que o poema que escrevo agora
                   Sacie a fome do poeta devorador de imagens.
                   Que minha palavra, antes que seja poema, mostre pontes,
Indícios, gestos de mãos a esculpi-lo, sangrando, sofrendo
Por entre o tremor do abandono dos dedos.
Quero que mostre o caminho árido das rugas, acelerando-a, ela, a palavra marcada pelo pulsar vermelho das arritmias,
Injetando sangue nas células do meu poema.

Ah, como quereria assistir a esse espetáculo:
emoção versus palavra, em que não há vencido nem vencedor,
apenas a fusão de todas as deidades – o verso universal que nos desperte, com seu ritmo de luz, ante o fascínio da terra, e nos faça ninar, ouvindo a voz náufraga e adormecida
de velhos poetas em suas canções de água e de espelhos.
            

quarta-feira, 24 de julho de 2013

PAPA FRANCISCO PROFERE LINDA HOMILIA EM APARECIDA


Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a nossa Senhora o meu ministério como sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, Nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me contra pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos --que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão-- eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: "Mostrai-nos Jesus". É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher - figura de Maria e da Igreja - sendo perseguida por um Dragão - o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13ª. 15-16ª). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixamos que ela se apague nos nossos corações! O "dragão", o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé crista.

Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança - a grande esperança que a fé nos dá - sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Confiemos em Deus! Longe d'Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d'Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5,3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se "incendiará" de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: <


Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: "Fazei o que Eles vos disser" (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.

24 de julho de 2013

domingo, 21 de julho de 2013



Aos amigos que estiveram comigo no jantar de adesão, no restaurante Piaf, por ocasião do meu aniversário, quero homenagear com este 
CANTO DE AGRADECIMENTO

Deixai-me cantar...
               Deixai-me expressar em versos
               a beleza desta hora,   o sorriso da alegria,
               no esplendoroso universo
               do sonho que me alimenta a vida.
               Porque poeta é ser capaz
               de cantar o inacessível,
               de pôr estrelas nas noites mais escuras,
               de traduzir, em rútilos lampejos,
               a imensa dor do mundo, a humana dor,
               na mais esplêndida linguagem: o Amor.

               Deixai-me, então, cantar este momento...
               Deixai-me agradecer com meu humilde verso
               a beleza desta hora,
               a alegria do sorriso
               e esse grande encantamento
               da manifestação do vosso amor!

               Assim, prosseguirei cantando.
               Assim, prosseguirei sonhando
               um sonho estonteantemente belo
               como o mar sob o farol das estrelas.
             
               Assim cantando, agradeço esta homenagem
               Assim cantando, deixo-vos minha mensagem
               A peregrinar no espaço desta hora
               Em que minha alma de alegria exulta
               Na mais querida e esplêndida emoção!

Giselda Medeiros
17/7/2013

GALERIA DE FOTOS


Com Rosa Firmo, Evan Bessa e Nirvanda Medeiros 


Com o casal Bernadete e José Augusto Bezerra


Com os Acadêmicos Regine Limaverde, José Augusto Bezerra e Batista de Lima


Com a amiga Maria Helena Macedo


Com os Acadêmicos Ítalo Gurgel 
 e Vicente Alencar


Com a poetisa Hermínia Lima


Com o Acadêmico Ednilo Soárez


Com a escritora Tereza Porto


Com a amiga Constança Távora


Com o Acadêmico Ernando Uchoa Lima


Com as amigas Rejane Noronha, Conceição Seabra e Euda


Com o casal Vânia e Batista de Lima


Com Dr. Marcelo Gurgel


Com os amigos Aldo Melo e Dra. Sabrina


Ladeada pelos amigos Vicente Alencar, Maria Helena, Maria do Carmo Fontenelle e pelo casal Vilani e Dr. João de Deus.


A homenagem da Presidente Nirvanda Medeiros


Os agradecimentos 


Os parabéns pra você...


A festa dos amigos

terça-feira, 16 de julho de 2013

REGINA BARROS LEAL - CRÔNICA DO DIA



RELATO

                  Madrugada!  Letícia impulsionada pelo desejo de escrever deixa as mãos digitarem com frenesi. Sua cabeça fervilha de ideias e se apodera do tempo rememorando fatos, situações. Surgem recordações imprudentes e impudentes que dão à narrativa o tom do pecado, do proibido, da cobiça camuflada, como se fossem esconderijos das estreitas ruas de cidades exóticas, de labirintos intermináveis. Lembra Hades, o deus grego, em seus intermináveis subterrâneos. Nesse itinerário do não explícito, do invisível, do anônimo, do bizarro, expressa, à sua maneira, anseios, segredos, subjetividade, subjetivação e singularidades. Percorre o imaginário encontrando o passado vivido. Materializa-o, toma forma, ora provisória, lacunar, fragmentada e imprevisível, ora totalizante, holística e plena.
                 Deste modo, sua escrita trilha o caminho da inspiração, da fantasia, do imponderável, das descobertas, escapando dos desvios que surgem inesperados e das ruelas traiçoeiras da vulgaridade. Rememorar a vida a encanta e assim ela o faz sem resvalar para um saudosismo obsessivo. Escrever torna-se um desejo constante, uma atração arrebatadora, uma curiosidade queimante. Através da narrativa, abre fendas no tempo e caminha pelos labirintos sedutores da memória, sem aflição. Persiste em sua aventura, impulsionada pelo desejo de reviver estórias exultantes, fatos simples, pessoas marcantes, os ternos amores e as paixões proibidas. Ah! As paixões que estonteiam, marcam a existência e arrebatam sentimentos incógnitos, abismais. São como brumas densas, penachos de fumaça, bosques virgens, caminhos desconhecidos, soando, às vezes, como borrascas e ou terremotos súbitos e devastadores.

                 Letícia alça voos e, brincando de fada, transforma sapos em príncipes, burros em cavalos alazões, casebres em castelos encantados. Narra estórias sobre o cotidiano, chora partidas, relata episódios e espreita o passado, através do olhar observante do seu presente.  Às vezes, seu coração se avermelha, sangra com a dor do amigo e se regozija pelo sucesso de pessoas que alcançaram seus sonhos e cantam a vida.

sábado, 13 de julho de 2013

INSTANTES - Jorge Luís Borges



Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.

Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo.

sábado, 6 de julho de 2013

FLORBELA ESPANCA - BIOGRAFIA


Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum.
Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam.
Florbela entra para o curso primário em 1899, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca. O pai de Florbela foi em 1900 um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal. A mesma paixão pela fotografia o levará a abrir um estúdio em Évora, despertando na filha a mesma paixão e tomando-a como modelo favorita, razão pela qual a iconografia de Florbela, principalmente feita pelo pai, é bastante extensa.
Em 1903, aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos.
Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece. Florbela então ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, fazendo com que a família se desloque para essa cidade. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário, fato que não era visto com bons olhos pela sociedade e pelos professores do Liceu. No ano seguinte casa-se no dia de seus 19 anos com Alberto Moutinho, colega de estudos.
O casal mora em Redondo até 1915, quando regressa à Évora devido a dificuldades financeiras. Eles passam a morar na casa de João Maria Espanca. Sob o olhar complacente de Florbela ele convive abertamente com uma empregada, divorciando-se da esposa em 1921 para casar-se com Henriqueta de Almeida, a então empregada.
Voltando a Redondo em 1916, Florbela reúne uma seleção de sua produção poética de 1915 e inaugura o projeto Trocando Olhares, coletânea de 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de Mágoas e o Livro de Soror Saudade.
Regressando a Évora em 1917 a poetisa completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras, e logo após ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Após um aborto involuntário, se muda para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose. Seu casamento se desfaz pouco depois.
Em junho de 1919 sai o Livro de Mágoas, que apesar da poetisa não ser tão famosa faz bastante sucesso, esgotando-se rapidamente. No mesmo ano passa a viver com Antônio Guimarães, casando-se com ele em 1921. Logo depois Florbela passa a trabalhar em um novo projeto que a princípio se chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de Quimeras. Por fim, torna-se o Livro de Soror Saudade, publicado em janeiro de 1923.
Após mais um aborto separa-se pela segunda vez, o que faz com que sua família deixe de falar com ela. Essa situação a abalou muito. O ex-marido abriu mais tarde em Lisboa uma agência, “Recortes”, que enviava para os respectivos autores qualquer nota ou artigo sobre ele. O espólio pessoal de Antônio Guimarães reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981, ano do falecimento do ex-marido. Ao todo são 133 recortes.

Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage no civil e no religioso e passa a morar com ele, inicialmente em Esmoriz e depois na casa dos pais de Lage em Matosinhos, no Porto.
Passa a colaborar no D. Nuno em Vila Viçosa, no ano de 1927, com os poemas que comporão o Charneca em Flor. Em carta ao diretor do D. Nuno fala da conclusão de Charneca em Flor, e fala também da preparação de um livro de contos, provavelmente O Dominó Preto.
No mesmo ano Apeles, irmão de Florbela, falece em um trágico acidente, fato esse que abalou demais a poetisa. Ela aferra-se à produção de As Máscaras do Destino, dedicando ao irmão. Mas então Florbela nunca mais será a mesma, sua doença se agrava bastante após o ocorrido.
Começa a escrever seu Diário de Último Ano em 1930. Passa a colaborar nas revistas Portugal Feminino e Civilização, trava também conhecimento com Guido Batelli, que se oferece para publicar Charneca em Flor. Florbela então revê em Matosinhos as provas do livro, depois de tentar o suicídio, período em que a neurose se agrava e é diagnosticado um edema pulmonar.
Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.
FONTES:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/projtelecolab/tintalusa/
numerodois/tl3.html
http://purl.pt/272/2/index.html

http://www.torre.xrs.net/

terça-feira, 2 de julho de 2013

POEMA DO DIA


INSTABILIDADE

                     Vês?

                     Aquela onda a tecer rendas de espanto,
                     na areia,
                     não sou eu.
                     Eu sou o contorno das espumas
                     lavrado como escritura
                     para o abissal exílio dos grãos
                     de areia.
                    
                     Minha essência
                     são esses fragmentos de ausência
                     retidos na voz dos náufragos,
                     no desespero das algas e corais
                     afogados.
                    
                     Entre ti e mim há sombras
                     que devoram horas,
                     que extraviam calendários;
                     há voos que perderam a estabilidade
                     e passos esquecidos nas estradas.
                     Somos paisagens que se despedaçam
                     sob os látegos do tempo.
                    
                     Em nós, apenas os murmúrios cegos
                     de um amor espetado
                     pelos dedos espinhentos do destino.
                    
                     Somos a ânsia dos tardos andarilhos:
                     tu, as pegadas, lentas,
                     irremediavelmente tímidas;
                     e eu, o porto, a chegada final,
                     que espera em vão
                     o assentamento da âncora

                     dos teus andarilhos passos. 

GISELDA MEDEIROS