terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO - GISELDA MEDEIROS


Feliz Ano Novo!
Giselda Medeiros

O ano começa...
Uma nova luz te chegará
pela primeira aurora.
E teus sonhos serão sóis,
que hás de conservar ardendo,
sempre em chamas.
Eles te impulsionarão,
da aurora ao arrebol de cada dia
da tua vida!
A  felicidade, então, te sorrirá,
em asas e plumas,
mesmo na languescência
dos poentes...
E A LUZ!
A luz do teu sonho
virá, sempre,
pela madrugada sangrenta,
e desabrochará,
 linda e majestosa,
em pétalas!
Faça-se a Luz!

Feliz Ano Novo para você!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ACADEMIA CEARENSE DA LÍNGUA PORTUGUESA REALIZA CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA


O presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa, jornalista Vicente Alencar, reuniu seus pares, dia 20 de dezembro, às 19h30min, no anexo do restaurante do Ideal Clube, para comemorar o nascimento do Menino Jesus e, junto a esses festejos, promover a confraternização entre os sócios desse sodalício. Imbuídos desse espírito natalino, os que lá estavam puderam absorver a palavra do nosso confrade Horácio Dídimo, que nos fez refletir com a "Harmonização do poema Da Infância, de Giselda Medeiros", e do poema O Afinador de Palavras, de sua autoria, dentro de seu já conhecido estilo "As Harmonias do Pai-Nosso". Foi um momento ímpar, de muita emotividade.
O presidente leu um poema de Natal de sua autoria, seguindo-se, Regine Limaverde, Maria Luísa Bomfim e Giselda Medeiros.
Houve um momento para a música, ocasião em que o acadêmico Manoel Crisóstomo do Vale entoou em sua gaita a música "Sinos de Belém" e, em seguida, a acadêmica Maria Luísa Bomfim cantou "Natal Branco", dando, assim, ao nosso encontro toda a atmosfera do Natal, tanto que a senhora Evendine, esposa de Horácio, pediu a palavra e ressaltou que, das muitas confraternizações a que esteve presente, a única que apresentava realmente o sentido do Natal era aquela a que assistia.
Em sequência, foi feita a brincadeira do amigo secreto, com muita descontração e espírito de fraternidade.
Por último, foi servido o jantar, tudo com o requinte que é inerente ao nosso querido Ideal Clube.
Queremos agradecer ao seu diretor de Cultura José Telles e a Carlos Augusto Viana que nos proporcionaram esse aprazível encontro, inclusive, participando dele, para nossa alegria.

Agora, apresentamos algumas fotos que marcaram aquela grande noite. Confiram

O presidente Vicente Alencar, tendo ao lado sua esposa Margarida Alencar, faz a abertura do encontro


O Acadêmico Horácio Dídimo (em pé) faz a sua preleção


a Acadêmica Regine Limaverde lê o seu poema de Natal


A Acadêmica Maria Luísa Bomfim recita sua mensagem de Natal


O Acadêmico Tarcísio Cavalcante, ao lado de sua esposa, fala da importância dos seu aniversário, também, ocorrido na data do Natal de Jesus


Mãe e filha: Acadêmicas Giselda e Ana Paula Medeiros


Os Acadêmicos: Vicente Alencar, Prof. Moura,  Tarcísio Cavalcante e sua esposa


Margarida Alencar, Evendine e Horácio Dídimo


Regine Limaverde, Maria Luísa Bomfim e José Telles


Acadêmico Manoel Crisóstomo em seu momento musical


Presidente Vicente Alencar fala sobre a aquisição das três acadêmicas neste ano: Ana Paula Medeiros, Maria Luísa Bomfim e Regine Limaverde, dentre outros assuntos 


FELIZ NATAL PARA TODOS!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

MENSAGEM DE NATAL



            Há mais de dois mil anos, nascia Jesus. Aquele que viera ensinar o exercício da Fé, da União, do Perdão, da Caridade, sobretudo, do Amor, este sentimento maior que deve prevalecer no coração da humanidade, como o bálsamo para extinguir todos os males, conforme está escrito na Primeira Epístola de Paulo Apóstolo aos Coríntios, capítulo 13: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece”.
            Queridos amigos, que possamos fazer, neste instante, em que nos reunimos para celebrar o Natal, uma profunda reflexão sobre estas sagradas palavras, de modo que este AMOR maior esteja sempre em nós, unindo-nos e nos fortalecendo. 

            FELIZ NATAL para todos!  

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TEXTO INTEGRAL DA ORAÇÃO DO PAPA FRANCISCO À IMACULADA CONCEIÇÃO


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco deixou o Vaticano esta tarde para a tradicional homenagem na Praça de Espanha, no centro de Roma, por ocasião da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria.
Eis o texto da oração pronunciada pelo Santo Padre:

Oração à Imaculada

Virgem Santa e Imaculada,
a Ti, que és a honra do nosso povo,
e a defensora atenta da nossa cidade,
(a Ti) nos dirigimos com confiança e amor.


Tu és a Toda Bela, ó Maria!
Em Ti não há pecado.

Suscita em todos nós um renovado desejo de santidade:
brilhe na nossa palavra o esplendor da caridade,
habitem no nosso corpo pureza e castidade,
torne-se presente na nossa vida toda a beleza do Evangelho

Tu és a Toda Bela, ó Maria,
Em Ti se fez carne a Palavra de Deus.

Ajuda-nos a permanecer na escuta atenta da voz do Senhor:
nunca nos deixe indiferentes o grito dos pobres,
não nos encontre distraídos o sofrimento dos doentes e dos carecidos,
comovam-nos a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças,
seja sempre amada e venerada por todos nós cada vida humana.

Tu és a Toda Bela, ó Maria!
Em Ti, a alegria plena da vida bem-aventurada, com Deus

Faz com que não percamos o significado do nosso caminho terreno,
ilumine os nossos dias a luz gentil da fé,
oriente os nossos passos a força consoladora da esperança,
anime o nosso coração o calor contagioso do amor
permaneçam os olhos de todos nós bem fixos em Deus, onde há a verdadeira alegria.

Amém!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

REMEMORANDO LUSTOSA DA COSTA



Lustosa da Costa – muito mais que Jornalista
 Giselda Medeiros


              Stendhal, mestre do romance psicológico, diz-nos que “um romance é como um arco de violino. E o corpo do violino, que ressoa, é a alma do leitor”. Efetivamente, um não se completa sem o outro e, por isso, é que dizemos, após concluída a leitura de Vida, Paixão e Morte de Etelvino Soares (São Paulo: Editora Maltese, 1996), sentirmo-nos, assim, vibrando, os que perlustramos as páginas plenas de inquietação e serenidade, de realismo e ficção, de amor e ódio, páginas inesquecíveis desse romance, cujo título traz o cinzel da inteligência do jornalista Lustosa da Costa; título dado, não “pomposamente”, mas  guardando-lhe a sugestiva dimensão emocional.
              A matéria-prima de que se serviu o obreiro foi (re)buscada nos corredores tortuosos da provinciana Sobral do início do século XX. Com ela em mão, procurou (re)compor o cenário, que retratasse a sociedade  daquela época, em sua evolução dialética, a caminho da transformação. Caracterizou suas personagens, dando-lhes ações tão reais que nos é possível senti-las saltar da imobilidade do papel para a representação concreta. Assim é que no capítulo introdutório “A Execução”, mesmo ainda sem termos tomado conhecimento de seus protagonistas, eles surgem, inesperadamente, da obscuridade do passado para o palco do presente, a encenarem o ato final, diante de nossa perplexidade. Aí dá-se o choque emocional, e o leitor, ávido pelo esclarecimento do fato,  vai, página por página, inteirando-se dos conflitos e das necessidades das personagens vistas em seus desequilíbrios sociais e ontológicos.
              Na verdade, o capítulo inicial, apresentando alto teor fotográfico e documental, é a síntese reveladora do drama vivenciado pelo protagonista, verdadeira saga humana, na qual a personagem Etelvino Soares demonstra o caráter desafiador e intimorato de um homem apaixonado pelo jornalismo construtivo e justo. Em nenhum momento, sob as mais diversas pressões político-sócio-eclesiásticas, deixou-se corromper. Antes, procurou denunciar o convencionalismo da sociedade, enfatizando o contraste entre o “ser” e o “aparentar ser”, mesmo correndo riscos inevitáveis.
              Ditas estas considerações, faz-se necessário, agora, que teçamos alguns comentários (despretensiosos, é claro), com relação a alguns pontos que nos chamaram à atenção. Em primeiro lugar, o foco narrativo em terceira pessoa mostra um narrador onisciente que, no entanto, inclui-se como personagem – e isto apenas no capítulo inicial – embora disfarçadamente entre parênteses. Entendemos ser tal procedimento um recurso técnico usado pelo Autor, ou seja, o de intuir no leitor a veracidade do fato. O narrador acompanhou toda a vida e paixão de Etelvino, como mero espectador, mas não pôde calar-se diante de sua morte trágica, que é desfecho do romance. Por essa razão, o caráter documental a que nos referimos antes. Vejamos: (Enquanto vida tiver, jamais se apagará da memória dos meus tímpanos fatigados o som daquele urro feroz do moribundo que depois se vai esvaindo, esvaindo, esvaindo até se converter no doído ganir dum cachorro atropelado.). Atente-se para a construção do tempo verbal “se vai esvaindo”, em que a locução apresenta um aspecto durativo da ação expressa pelo verbo, sem que a ela seja dada uma definição na divisão geral de tempo presente, passado e futuro. É como se a cena se registrasse num tempo que vai sempre se prolongando.
              Em segundo lugar, na pele de narrador detalhista, o que se nota através da multiplicidade de informações, leva-nos o Autor a refletir sobre as condições da realidade social de um tempo em que a dominação (muito mais intensa que hoje), das oligarquias corrobora a veracidade deste pensamento do historiador A. Hauser, com que expressou a vitória do capitalismo industrial: O dinheiro é a força que domina toda a vida política e privada e (...) todos os direitos passam a exprimir-se através dele. Tudo, para ser compreendido, tem de se reduzir a um denominador comum: o dinheiro. E, em terceiro lugar, a caracterização (a nosso ver) de um romance de costumes com tendências naturalistas, quando combate, com inabalável urdidura, a Igreja, a Família, a Justiça, imergindo no mais profundo da miserável condição humana de suas personagens para daí trazer-nos temas que, mesmo recorrentes, ganham mais dramaticidade quando tratados pela pena sensível de Lustosa da Costa. Dessa maneira, ele denuncia, com argúcia, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, o adultério, o sexo, enfim, os impulsos antagônicos do ser humano. E tudo isso apresentando densidade conteudística, fluxo narrativo emergente, em que sobressai a capacidade de trabalhar as personagens em suas tramas, o que lhe confere o irrefutável pendor para a narrativa longa.
              Digna de nota é também a coerência da linguagem. Os períodos curtos, em sua grande maioria, denunciam o equilíbrio do processo criativo do Autor e o seu compromisso com o leitor, no que concerne ao entendimento da mensagem. Os diálogos guardam uma aura de autenticidade, reveladora, muitas vezes, do mundo psicológico de suas personagens. Há aí sátiras, ironias, metamorfoses de comportamentos ou, simplesmente, o desnudar-se de almas.
              Vida, Paixão e Morte de Etelvino Soares é, pois, a narração de uma luta insana, quixotesca, em que se digladiam a moral e suas pretensas autoridades, a oligarquia, o tradicionalismo conservador das famílias de estirpe, o clero, a política, a justiça, enfim, a comunidade aristocrática sobralense, que se impõe, dominadora, caricaturizada na personagem Romão Patriolino de Albuquerque. Do outro lado, a figura de Etelvino, um arraigado jornalista que nada mais queria senão combater os moinhos da injustiça e da opressão.
              Por fim, fazemos nossas as palavras do inesquecível mestre da crônica, o cearense Mílton Dias, ao prefaciar “Cartas do Beco”, em que enumera as qualidades de bom ficcionista, que é Lustosa da Costa: “estilo simples, escorreito, a prosa pura, enxuta, a que não falta um lirismo contido, o vocabulário rico, sem afetação, a palavra fácil, a plasticidade, abordando os temas mais vários, os mais graves e os mais leves com a mesma vibrante espontaneidade”. E, em seguida, arremata: “o leitor que o conhece tem a impressão de estar a ouvir-lhe a voz”.
              Pois é assim mesmo, mestre Mílton. Lendo Lustosa da Costa, sentimo-lo em cada letra, em cada frase, em cada período, em cada capítulo, em cada obra, limpo em sua integridade de homem de imprensa, e, como poucos, a conquistar o aplauso e a simpatia de seu público leitor. O humor inteligente, o cavalheirismo fazem deste jornalista de largo conceito e militância um homem perspicaz. Por isso sabe ele que é necessário reinventar a vida e para tal transpõe a objetividade do fato jornalístico em literatura. Assim, o que é ou o que foi produto de um tempo atravessará os espaços da historicidade do cotidiano e passa a ser arte vertical e transcendente: Ars longa, vita brevis.

              Desse modo, Lustosa, aceitando seu convite, entramos prazerosamente nesta saga sobralense e gostamos tanto de conviver com seus protagonistas que difícil é, agora, nossa retirada.

(in CRÍTICA REUNIDA)

domingo, 10 de novembro de 2013

POETA E POETISA - Sânzio de Azevedo


 Não é a primeira vez que abordo esse assunto, mas resolvi retomá-lo depois de uma conversa que tive há algum tempo com o amigo e poeta Jorge Tufic, oportunidade  em que ele me revelou não concordar com o costume, que grassa em nossa imprensa, de se dizer, ao falar de uma mulher que faz versos, tratar-se de “uma poeta”.
Sinésio Cabral, em trabalho de 199l, 1 após lembrar que, em Antenor Nascentes, em Silveira Bueno e na Delta Larousse (e eu acrescentaria Caldas Aulete e Koogan-Houaiss), encontra-se poetisa como feminino de poeta, adverte que em latim temos poeta (poeta) e poetria (poetisa); em francês, poète e poétesse; como, em inglês, poet e  poetess. Ao que eu acrescento, em espanhol, poeta e poetisa; em italiano, poeta e poetessa e, em alemão, Dichter e Dichterin.
 No mesmo trabalho, cita Sinésio Cabral o poeta e crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, o qual considerava Francisca Júlia “talvez o mais característico dos poetas parnasianos do Brasil”, dizendo em seguida que “a poetisa professou a arte pela arte”. 2
 E observa o ensaísta cearense: “Trata-se, aqui, do emprego correto de poetas (a poetisa entre poetas) e de poetisa (feminino de poeta).” 3
 José Peixoto Júnior, escritor cearense radicado em Brasília, em texto publicado numa revista dirigida por Nilto Maciel, ao referir-se a poeta e poetisa, assinalou: “O uso dos dois epítetos nunca arranhou a igualdade reinante no seio do poetismo; jamais limitou o espaço a ‘quantos bebem a água do Parnaso’; entretanto, insinuam o enquadramento do substantivo poeta na classificação morfológica do grupo ‘comum de dois’, submetendo-o ao vexame de ver-se antecedido por forma articular feminina na determinação daquela que verseja, denominando-a de ‘a poeta’.” O mesmo ensaísta sugere que o vocábulo poetisa “deve ter surgido nos estertores do Iluminismo”. 4
 O filólogo conterrâneo José Alves Fernandes me apresentou o único exemplo que vi, fora de nosso tempo, do emprego de poeta com referência a uma mulher. É do século XVII, e diz: “No fim de todas elas (...) vem hua natural de Saxônia chamada Rosuvides estremada na língua Latina & Grega, & Poeta laureada da qual diz Arnoldo (...) que foi admirável assi na prosa, como no verso.” 5
 É o caso de se imaginar o que, em nossos dias, teria levado alguns a substituir poetisa pelo equivalente masculino, tratando embora de mulher. Terá sido a palavra desgastada pela produção de tantas versejadoras sem mérito, ao longo dos anos? Não, esse argumento não procede, se pensarmos no número imenso de homens escrevendo maus poemas no Brasil, ontem, hoje e certamente amanhã...
 Embora continue julgando ser poetisa o feminino legítimo de poeta, como juíza o é de juiz, ou pintora de pintor, ainda admito que alguém se refira a uma autora de poemas chamando-a de poeta, mas desde que seja respeitado o gênero do vocábulo.
 Cecília Meireles, em “Motivo”, disse: “Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta.” Lendo este último verso, não podemos ter certeza quanto ao fato de a autora de  Viagem aceitar a forma feminina “a poeta” (que me parece antiestética), mas, se me é lícita a lembrança de um testemunho oral, contou-me o saudoso escritor Edigar de Alencar que, ao perguntar a Cecília Meireles se ela havia escrito algum poema humorístico, teve dela esta resposta: “ – Eu sou um poeta elegíaco!” Note-se que a escritora disse “um poeta”, e não “uma poeta”.
Curioso constatar que só acontece esse atentado à gramática com o vocábulo poeta. Ninguém diz que a atriz Cacilda Becker foi “uma ator”, ou que a pintora Tarsila do Amaral foi “uma pintor”, o que equivaleria rigorosamente a “uma poeta”...
José Veríssimo, tratando de Júlia Cortines, afirmou, no começo do século XX: “esta poetisa é um poeta tão bom como nossos melhores”. 6 Claro que o crítico usou poeta para generalizar, tanto que o estudo se intitula “Uma poetisa e dois poetas”, pois fala também de Cruz e Sousa e de Luís Guimarães Filho.
 Bem outro é o caso de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) que, no estudo “Uma poetisa poeta”, datado de 1920, comentando a escassez do trabalho cultural das mulheres (as quais, para ele, “não se distinguem (...) por uma produção satisfatória e nem mesmo apreciável”), conclui o trabalho com esta frase: “A Sra. Maria Eugênia Celso não é uma poetisa, é um poeta, mas de alma profundamente feminina.” 7
 Parece-me estar nessa visão preconceituosa (e machista) a origem da aversão de alguns ao vocábulo poetisa. E ainda assim o crítico respeitou a gramática, pois não escreveu “uma poeta”...
Sirva-me de consolo a leitura de uma poetisa atual, que assume de maneira forte e bela sua condição de mulher que faz versos; trata-se de Elisabeth Veiga, que escreveu um poema intitulado, justamente, “Poetisa”:

Ponho a palavra batom no papel
 -- palavra de carne
 como o beijo é vermelho.

 Ponho a palavra rímel
 e os olhos se fecham sob mel negro
 dessa tinta alerta,
 e o poema se entrega entre teus dedos,
 observa
 o ócio com que o folheias:
 se tivesse pétalas voava
 suicida, de volta para o vidro de perfume.

 Mas o silêncio da rosa
 é perfeito
 quando é só:
 rosa – eternidade na mesa.
 Mas ponho a palavra terra.
 Sou origem.


 Poetisa. Não poeta. 8

(da Academia Cearense de Letras)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

PARA REFRIGÉRIO DE NOSSA ALMA


REVELAÇÃO
Cf. Salmo 23/22
 Horácio Dídimo

  
Quando vejo a estrela azul
Brilhando por um instante
Descanso em águas tranquilas
E em pastagens verdejantes.

Minha alma se fortalece,
Minha vida se transforma,
Uma mesa é preparada
E meu cálice transborda.

Quando vejo a estrela azul
Em todo seu esplendor
Sei que tudo vai mudar,

Sei que tudo já mudou,
Que o Senhor é meu pastor
E nada me faltará.
                                             

 Música de Mauro Augusto

terça-feira, 29 de outubro de 2013

LIVROS & LIVROS

Agradecemos aos autores o envio de seus maravilhosos livros.



"(...) o poeta Pereira de Albuquerque encontra, em todos os detalhes da vida, sobejos motivos para, deles, extrair poesia. Nada lhe escapa à observação: o amor, a crítica social, a felicidade,  a educação, o (des)governo, a religião, a paz, o futebol,os falsos profetas, e tudo o mais.
Afirmar essas verdades é para ele apenas a maneira que escolheu para nos brindar com as suas redondilhas - os notáveis heptassílabos onde dá largas à sua aguçada percepção do mundo, enxergando, inclusive, o que outros não veem.
(...) Tem razão Dimas Macedo, poeta e crítico literário, quando o reputa um dos nossos melhores escritores".
(Vicente Alencar)



 "(...) Arquiteto a Posteriori reúne textos acerca de obras cuidadosamente eleitas sob o rigor da qualidade, nos quais descreve olhar e sentimento, exercendo atitude crítica pura, incólume às práticas menores dos achaques, dos desnegrimentos gratuitos e das desmerecidas lisonjas.
Assenhoreia-se, ao traçar os conceitos e considerações, da admirável benquerença que lhe merecem os amigos e os bons textos, mas não se afasta da atitude severa dedicada à análise erudita, que modestamente chama de comentário".
(Geraldo Jesuíno da Costa)




"(...) Verdade: pelas janelas invisíveis do ÚLTIMO TREM PARA PASÁRGADA, Eduardo Fontes estira, ao longe, um olhar bifronte: é o poeta obcecado pelo simples, verdadeiro e distraído pelo Belo. E o leitor vai-se enriquecendo de Poesia, de emoção e de mistério, de conhecimento e de ideias. Diga-se frutífera a mistura de imaterial e material, de emoção e razão.
Embarque, leitor, nesse último trem: você vai em companhia de 'um poeta constantemente emocionado diante da vida e dos mistérios da morte'."
(Dias da Silva)




"(...) Talentoso e culto, desliza ao sabor de diferentes estilos literários, com muita propriedade, da mesma forma como atua dentro da área médica. E agora nos traz "Isso é coisa do Pessoa - em Prosa e Verso" para nos deleitar com suas rimas inteligentes em trovas líricas ou satíricas e com a prosa gostosa, de mesa de boteco, ao som dos copos e grugrulejo das cervejas, onde somos capazes de passar horas e horas batendo papo e gargalhando sem nos lembrarmos de que existem colesterol, inflação, dieta, imposto de renda..."
(Celina Côrte Pinheiro)



"(...) Aqui, estamos diante de um compêndio de sabedoria. São poemas sob os mais variados temas. E não pense o leitor que vai encontrar versos rebuscados, herméticos. Não! São versos simples, rolados da grande correnteza da vida.
(...) Os conceitos morais, religiosos, são trabalhados pela Autora com a mesma simplicidade e leveza, por meio  de sua aguçada visão interior, a nos chamar para as suas verdades.
(...) Quem conhece Terezinha Bedê sabe de sua riqueza espiritual, de sua dignificante postura diante dos fatos imutáveis da vida. Dentro de sua visão humanizada, ela sabe (e comunga com o pensamento de Aristóteles) que a existência é uma dádiva concedida pela natureza, mas uma vida bela somente a sabedoria nos pode proporcionar."
(Giselda Medeiros)




"(...) Li a História desses povos, dessas gentes. Mas li também Camões, a Bíblia, Alencar, Machado, cordel, Moreira Campos. E me pus a escrever também. Mais para relembrar aquele povo e seus descendentes. Para recriá-los. Ou mesmo criá-los, porque talvez nada exista. O que existe é obra de arte, que é ficção. Nada é real. Quanto mais antigo mais irreal."
(Nilto Maciel)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Luiz Felipe Pondé - Revista Literatura



Literatura como cura

Hoje quero falar de dois sintomas que marcam nossa época. O primeiro sintoma é a falação ruidosa de nosso mundo; o segundo é a ideia de que o mundo sofre porque não nos amamos e que tudo se resolveria se nos abraçássemos e parássemos de sermos gananciosos.
Fala-se demais hoje. Todos têm opinião. Até jovens de 20 anos são chamados a dar opinião sobre o mundo e a sociedade, quando mal sabem arrumar o quarto. E quando se elegem crianças de 25 anos como arautos da sociedade (adulto que faz isso, o faz, normalmente, para ter discípulos fiéis e fanáticos, ou porque é bobo mesmo), o resultado é que acaba se pensando que o mundo começou, como diz um amigo meu muito esquisito, em "Woodstock".
Quando se pensa isso, acaba-se imaginando que o problema do mundo é mesmo aprendermos que "all you need is love"... Infelizmente, a humanidade é mais complicada do que pensa nossa vã inteligência woodstockiana. Contra essa visão infantil da realidade (este é o segundo sintoma do qual falei acima), proponho a leitura da obra do grande crítico norte-americano Edmund Wilson. Vou a ele já; antes, quero voltar ao problema do ruído mais especificamente (o primeiro sintoma do qual falei acima).
Somos um grande mundo ridículo e falastrão. Decorrente dessa falação, um ruído infernal toma conta do dia a dia. O silêncio, às vezes, é um dos maiores indicativos de maturidade, não só de uma pessoa, mas de uma civilização.
Estou falando isso por conta de um breve ensaio que caiu na minha mão esses dias, parte integrante do volume "Best American Essays 2013", editado por Cheryl Strayed.
O ensaio ao qual me refiro foi escrito pela prêmio Nobel Alice Munro e chama-se "Night". Nele, a autora conta a operação que fez quando criança para tirar o apêndice e uma "coisa do tamanho de um ovo de peru". Munro compara o comportamento atual diante de casos como o dela e o comportamento de seus pais na época. A conclusão é que hoje se falaria como o diabo do risco que ela corria na época. Mas, ao contrário, pouco se falou do assunto, "respeitando o medo" sem falação. Conta Munro que, nessa época, ela dormia num beliche com sua irmã mais nova (moravam numa espécie de granja), e que numa noite olhou para a irmã e pensou em sufocá-la.
A partir daí, não conseguia mais dormir, pensando no ímpeto que tivera de matar sua irmã. Numa das manhãs seguintes a suas noites de insônia, encontrou com seu pai, todo vestido chique, saindo de casa de manhã muito cedo. Contou para ele o que pensara e o horror que sentira.
Seu pai simplesmente lhe disse que esquecesse aquilo e que essas coisas passam. Depois, adulta, lembra como o modo simples de falar do pai a acalmou profundamente. A pequena Alice nunca mais teve insônia.

Na sequência, a prêmio Nobel comenta que nunca perguntara ao pai para onde ele ia tão cedo e tão elegante. Perguntou-se se ele ia ao banco renegociar a dívida da família ou ver a mulher que amava, mas com quem não podia ficar porque amava sua família... Silêncio. Nem uma linha de rancor. Hoje, escreveriam uma tese sobre como seu pai poderia ter sido um homem desatento ou, quem sabe, infiel. Ao lembrar do seu pai no momento do reconhecimento em que recebera o prêmio, Munro pensa em como ele teria ficado orgulhoso de sua pequena filha insone.
Nessas horas, tenho saudade do passado e lamento como nos transformamos em adolescentes barulhentos que se levam demasiadamente a sério.
O segundo autor que quero comentar é Edmund Wilson, um dos últimos críticos literários, segundo Paulo Francis, a enfrentar a literatura sem se esconder atrás de grandes teorias abstratas (que se querem "concretas").
No volume editado por Francis pela Companhia das Letras em 1991, "Onze Ensaio - Literatura, Política, História", esgotado, aparece sua "visão de mundo": a história é um longo processo através do qual as civilizações se devoram, criando e destruindo, em círculos, indo para lugar nenhum. Concordo.
Pura coragem intelectual, que tanto faz falta hoje, nesta época de líderes adolescentes que creem em Woodstock como modelo de sociedade.

Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".


Artigo publicado  Folha de S.Paulo

sábado, 19 de outubro de 2013

100 ANOS DE VINICIUS DE MORAES.



Soneto de separação
 (Vinicius de Moraes)

 De repente do riso fez-se o pranto
 Silencioso e branco como a bruma
 E das bocas unidas fez-se a espuma
 E das mãos espalmadas fez-se o espanto

 De repente da calma fez-se o vento
 Que dos olhos desfez a última chama
 E da paixão fez-se o pressentimento
 E do momento imóvel fez-se o drama

 De repente não mais que de repente
 Fez-se de triste o que se fez amante
 E de sozinho o que se fez contente

 Fez-se do amigo próximo, distante
 Fez-se da vida uma aventura errante

 De repente, não mais que de repente.

domingo, 13 de outubro de 2013

UM POEMA DE SÉRGIO MACEDO



QUANTO MAIS, NADA! POEMA PRA MULHER AMADA
Sérgio Macedo

Quanto menos te vejo,
Mais tenho medo de perder a saudade,
Mais tenho medo da quarta feira de cinzas,
Deposta em minhas fantasias.

Quanto mais te perco,
Menos tempo tenho a perder
A ti,
Quanto mais envolvo à alma em teus fantasmas,
Mas procuro o lenço e o lençol,
Manchado do que eu queria fosse teu, tu.

Mais o pensamento vagueia perdido no dia,
Mais a noite alonga a fila de fantasmas desesperançados,
Mais afina a estrada, a entrada, a saída.

Mais a sensação de perda se apresenta,
Mais o terror me espanta,
Mais o terror me serve de acalanto,
Perceba o pranto d´alma.

Quanto mais te perco, menos me encontro.
Quanto mais ando, mais ando e não chego
Quanto mais o dia amanhece, mais anoiteço,
Quanto mais o dia amanhece, mais finda o espaço.

Quanto mais te vejo, mais cresce a distância
Mais meus olhos e braços encurtam o alcance
Mais teus olhos míopes a mim me cegam.

Tempos caminham em diferentes estradas
Passam em dias ou milênios,

Canso-me verdadeiramente com o pouso do rebelde
De peito aberto e arma em punho,
Apenas um ator de raras cenas


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

12 de OUTUBRO - Dia das Crianças e dos que se Recusam a Deixar de Ser Criança!


 LAMENTO AO VENTO
 Diogo Fontenelle
 Para Mirian Carlos, a mestra que não se esqueceu de ser menina.

 A Infância passou pelos moinhos de sombras dos meus olhos tristonhos
 Em rendilhas e arabescos de luz pelos telhados do antigo casarão...
 Eu fui à Espanha buscar o meu chapéu azul e branco de sonhos!...
 Era uma vez, um menino marujo preso numa bolha dourada de sabão,
 Era uma vez, um soldadinho de chumbo em marcha pelo caderno escolar,
 Era uma vez, um pequeno flautista a dançar pelos jardins de abril,
 Era uma vez, um carrossel de lata a voejar pelo céu anil de Calcutá,
 Era uma vez, uma doce e distante canção de ninar para um órfão febril,
 Era uma vez, um circo oriental a tilintar por um domingo em prece,
 Era uma vez, uma Noite de Natal esquecida num livro de poesia,
 Era uma vez, uma aventura a escorrer por um folhetim de quermesse,
 Era uma vez, uma tarde bordada por fios de sol numa praia em sinfonia,
 Era uma vez, um grão-vizir de Alexandria a velejar um barquinho de papel,
 Era uma vez, o Pirata dos Tempos que roubou a arca da minha Infância...
 Ergueu muralhas de solidão pelos marulhos do meu peito menestrel,
 E vestiu-me de gente grande a inundar meu coração de infinda ânsia... 


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA 2013


A canadense Alice Munro venceu nesta quinta-feira (10) o Prêmio Nobel de Literatura 2013, informou a Academia Sueca, que a classificou como "mestre do relato curto contemporâneo". Munro, destacou a Academia em sua decisão, é consagrada por seu "harmonioso estilo de relatar, que se caracteriza por sua clareza e realismo psicológico".
Considerada por alguns críticos como "a Tchecov canadense", a escritora, nascida em 1931 em Wingham, na província de Ontário, é conhecida por suas histórias breves e publicou várias coleções ao longo dos últimos anos.
Munro, que chegou a estudar jornalismo e inglês, abandonou a universidade ao se casar. A escritora escreveu suas primeiras histórias na adolescência, mas publicou sua primeira obra, Dance of the Happy Shades (Dança das Sombras Felizes, em tradução livre), em 1968. No Brasil, a Companhia da Letras publicou seus livros Amor de uma boa mulher, Felicidade demais e Fugitiva, e a Editora Globo lançou Ódio, amizade, namoro, amor, casamento.
Suas obras costumam ter como cenário pequenas cidades onde a luta por condições de vida aceitáveis provoca em algumas ocasiões conflitos morais. O valor do prêmio é de milhões de coroas suecas (R$ 2,8 milhões) e o vencedor do ano passado foi o chinês Mo Yann.

sábado, 5 de outubro de 2013

DE "SENDAS DO SACRÁRIO



ADAGA - HERMÍNIA LIMA

 Ah! Essa adaga em riste
 a retalhar-me as carnes.
 E o estorvo de erguê-la
 pensando em tuas mãos ensanguentadas.

 Ah! O dissabor de saber
 o azul da tarde tingido
 pelo carmim do golpe
 e pelo talhe no sonho.

 Ah! A alegria insistente
 que traz da mesma adaga outra imagem,
 a retalhar-me o grito do espasmo cintilante
 chovendo sobre almofadas.

 Ah! Esse poder fálico revelado,
 trazendo o riso e a gratidão da alma...
 E o prazer de vê-la,
 pousada, em repouso,

 após a glória do bom-combate.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

UM OLHAR SOBRE CARLOS D'ALGE - GISELDA MEDEIROS



O Objeto Ausente

                    O prestigiado Escritor, Ensaísta, Poeta, Jornalista e Professor Carlos D’Alge vem de lançar, em elegantíssima noite no Centro Cultural Oboé, mais um de seus livros. Trata-se, agora, de O Objeto Ausente (Fortaleza, Editora ABC, 2003), obra que nos chega não para provocar polêmica, mas para provar e comprovar o talento desse homem que, sendo grande, bem maior se tornou pela coragem de levar a público seus dramas pessoais, desnudando-se completamente, deixando sobre si apenas a túnica da verdade, esta que o conduz durante todo o processo narrativo da obra.
                   Quem teve ou ainda tem o prazer de compartilhar da amizade de Carlos D’Alge, e beber dele a sabedoria e a experiência advindas do manancial de sua inteligência, pode julgar-se verdadeiramente um privilegiado. 
                   Sendo ser humano em toda a extensão do termo, não poderia ele, porém, passar incólume sobre este chão pedregoso da vida, sem ferir-se e, em assim sendo, ferir também, embora de maneira involuntária, aqueles que lhe estiveram ou lhe estão ao redor. Entretanto, jamais permitiu que ninguém ultrajasse com gestos ou palavras as pessoas que ama, pois o seu caráter, a sua formação ética falam muito mais alto que toda a pequenez dos invejosos.
                   Neste livro, Carlos D’Alge afirma, mais uma vez, que a sua escrita é uma verdadeira epifania, na qual ele se vai doando, em festa, ao banquete do leitor. E quanto mais se o vai lendo mais gostoso vai sendo o ato da leitura, isto por que o seu texto viabiliza o conhecimento de si, do outro e do mundo. Profundamente cuidadoso na linguagem, que aparece supimpamente trabalhada, ele demonstra ainda maior a discrição em não revelando nome das pessoas envolvidas em sua trama amorosa, evitando desse modo qualquer constrangimento para as personagens.
                   Seu drama não é menor nem maior que o de muita gente. Por isso, o leitor vai, aqui e ali, identificando-se com particularidades das vivências do autor, mesmo por que quem nunca se deixou levar pela ardência de uma paixão? Quem nunca teve de tomar decisões que a outrem pareceriam pura loucura? Se ainda não, certamente fá-lo-ão um dia. Eis por que concordamos com ele quando diz: Sem paixão não existimos, deambulamos, e só.
                   Mas, o livro não trata apenas da narrativa de seus amores, de suas paixões,  das crises de depressão que o atormentaram, das doenças, da dissolução matrimonial. Há a história de uma vida coroada de êxito, de uma vida dedicada ao trabalho, à literatura, ao jornalismo, aos amigos que fez nesta terra de Iracema, à família. É uma maneira que ele encontrou para dar satisfações suas ao leitor, dentro daquele princípio que sempre lhe norteou a vida, ou seja, o de fugir à mentira, ao fingimento, às especulações dos que alardeiam um falso moralismo. Carlos D’Alge é transparente e, de conformidade com Adélia Prado, coloca o sentimento “como a coisa mais fina do mundo”. Como artista que o é, não poderia ser diferente. Escrever é um ato de verdadeira entrega ao sentimento, e é este que move as pessoas, que dá colorido ao mundo, que torna poética a vida. Só a beleza salvará o mundo, diz Dostoievski.
                   Enfim, Carlos D’Alge, munido do prazer aliciante da palavra, constrói em O Objeto Ausente um mundo onde a sinceridade se faz presente em todos os sentidos, e a verdade se planta em todos os ventos que, alvissareiros, vão-lhe invadindo o coração numa canção de amor à vida, buscando o objeto amado que se fez ausente na fúria dos desencontros e conflitos humanos.
                   E, para concluir esta modesta apreciação, lembramos-lhe o patrício Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes”. Assim é Carlos D’Alge.

Giselda Medeiros - in Crítica Reunida


domingo, 22 de setembro de 2013

SONETO PARA MEU PAI - GISELDA MEDEIROS



(à memória de meu pai, Jorge Francisco de Medeiros)


                        Era pequena, pai, mas te recordo
                        A voz bondosa como me falasse...
                        Ah, com que gosto, ainda, quando acordo,
                        Tua carícia sinto em minha face.

                        Não me viste crescer, ó pai! Não viste
                        Em minha vida a primavera abrir-se...
                        Te foste muito antes, e foi triste
                        Crescer sem teu amparo definir-se.

                        Cresci, é bem verdade, e, hoje, poeta
                        Da lágrima, do amor abençoado,
                        Quero fazer-te um verso. E, assim, repleta

                        De inspiração, de amor, de suavidade,
                        Genuflexa, te entrego, ó pai amado,

                        Este meu verso cheio de saudade!

domingo, 15 de setembro de 2013

A CRÍTICA DE GISELDA MEDEIROS - DIMAS MACEDO



                         A expressão da crítica literária cearense e a sua inserção na cultura brasileira é uma das nossas tradições mais afortunadas. O pioneirismo de Rocha Lima (1855-1878) e do seu clássico Crítica e Literatura (São Luiz/MA, Typografia do Paiz, 1878) me parecem exemplos que se bastam a remarcar essa tradição e essa tenacidade, próprias da nossa inteligência criadora.
E como se isso não bastasse, Araripe Júnior, ainda no século dezenove, se encarregaria de dar à literatura brasileira o seu definitivo estatuto no terreno da crítica. E bem assim os rumos que esse gênero literário tomaria entre nós.
Depois, eu colocaria o papel relevante das Cartas Literárias (Rio, 1895) de Adolfo Caminha, o engenho crítico e a argúcia intelectiva de Frota Pessoa (Crítica e Polêmica, 1902), a essencialidade do exercício crítico de Braga Montenegro, as intuições estruturalistas de F. S. Nascimento e o recorte estético de acento indiscutivelmente teórico que permeia a produção de Pedro Paulo Montenegro.
A chamada crítica literária de formação acadêmica tem no Ceará se desenvolvido com algum desassombro. Lembro, aqui, os nomes de Linhares Filho, Batista de Lima, Lemos Monteiro e Sânzio de Azevedo, e ponho em destaque mais especificamente o nome deste último, que é, como sabemos, o maior historiador da nossa literatura. E trago à discussão também os nomes de alguns poetas que exerceram ou exercem, entre nós, a crítica literária de uma forma mais acentuada. Aluisio Medeiros, Francisco Carvalho e José Alcides Pinto entre esses nomes a que me refiro.
Agora, quem aspira a inscrever-se nessa tradição afortunada, é a escritora Giselda Medeiros, uma das mais argutas expressões da nossa intelectualidade e do nosso tirocínio cultural e acadêmico. E aspira a inscrever-se nessa tradição com a reunião, em livro, dos seus artigos de crítica, escritos nos últimos anos e pulverizados em diversos veículos da imprensa e em espaços outros onde se fez presente com a sua inteligência iluminada e a sua sensibilidade indiscutivelmente criativa.
Giselda já firmou definitivamente o seu nome como poetisa e já se revelou, de permeio, como uma das nossas contistas mais imaginosas. Contista da condição humana e do imponderável, onde Eros e Tanatos se abraçam. Poetisa também de escol, que paga tributo à lírica e à arte literária de qualidade estética relevante. Crítica Reunida é o livro da sua diversidade e do seu engenho sofisticado e mais ambicioso. Sei que falar em ambição, no caso de Giselda, é agredir um pouco à sua sensibilidade e à sua leveza. Mas a sua ambição literária se fez exatamente contra a sua vontade, e se fez exatamente a partir da sua discussão e da sutilidade com que dissemina no texto que elabora as marcas inconfundíveis do seu tirocínio teórico.
Não raro nos seus textos, faz-se presente o sistema literário e o contexto teórico em que insere o postulado das suas recensões, as quais saltam aos olhos do leitor como testemunho da erudição da autora. Não faz Giselda política de jornalismo literário tão-somente. Mais do que isso, ela nos mostra o seu viés estético e as suas linhas maiores de pesquisa em busca das formas supremas da arte literária.
A leitura para Giselda é um pretexto e não uma contingência aleatória. E o texto de crítica que a autora elabora é mais que uma instância comunicativa de acento verbal, pois nele se agrega igualmente um valor e, não raro, um sentido filosófico e uma perspectiva ontológica muito proveitosa. E esses traços, me parece, é tudo o que remarca o seu estilo e a sua discussão, a sua engenharia lingüística e a sua busca incessante de conhecimento.
Para Giselda Medeiros, a crítica literária é metacriação e não apenas desvelamento e argúcia para com a intelecção do texto literário. E dessa forma a autora nos vai revelando a poética da crítica literária que empreende, isto é, faz da estética do seu texto o pano de fundo das suas intenções e dos seus grandes acertos no campo literário.
O que destacar no seu novo livro? Creio que tudo em Crítica Reunida está sincrônico com o pensamento literário de Giselda e com a expectativa do leitor que dele se acerca. O livro condensa um conjunto de recensões e ensaios de diversas épocas e oportunidades. Mas em todos os textos reunidos, é possível vislumbrar a maturidade de Giselda Medeiros, a sua argúcia literária, a sua austeridade acadêmica, o seu vigor criativo e, acima de tudo, a sua possessão estilística e as marcas inconfundíveis do seu talento e da sua indiscutível leveza, em busca das formas puras da comunicação.
O rigor metodológico está presente em Crítica Reunida como em nenhum outro livro de crítica publicado no Ceará nos últimos anos. Existem no livro referências bibliográficas de monta, alinhamento de uma bibliografia no final do volume e um índice onomástico que facilita em muito a consulta de cada um dos textos ou a localização do discurso teórico no qual Giselda apoiou as suas conclusões e ou seus pontos-de-vista.
Louvo, por fim, a decisão da autora de assumir, de público, a maternidade desse novo gênero literário, e a decisão também de incorporá-lo, definitivamente, ao estuário da sua multifacetada visão. Giselda não é escritora de poucos recursos literários. É proprietária de sonhos e de um patrimônio literário que todo o Ceará já aprendeu a cultuar. Que seja assim também o destino e a recepção deste indispensável Crítica Reunida.

Dimas Macedo

Membro da Academia Cearense de Letras