domingo, 21 de agosto de 2011

UM POEMA PARA VOCÊ


A GEOMETRIA DO ADEUS
GISELDA MEDEIROS

Na lâmina dos espelhos
o teu olhar de beduíno
crestou-me os caminhos.
Os olhos vermelharam espigas
e espigas pariram grãos.

Na noite, vigiei-te os passos
que iam e vinham
no doce mistério de secar os grãos
nesse intróito dos rituais
(lira incendiada de sol)
que a noite sonha conquistar.

Na lâmina dos espelhos o meu olhar
(harpa desafinada)
escrevia notas dilaceradas
para alimentar a canção
de tuas carnes andarilhas
- ofertório, loucura, tempestade -
na noite do meu silêncio
posto em dunas alvacentas,
a refletir-se na lâmina dos espelhos
que tornaram cegos
meus olhos e os teus,
cúmplices da geometria
amorfa daquele adeus. 

In: Ânfora de Sol