segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CONTEÚDO E CONTINENTE - Giselda Medeiros


Poeta,
de que barro,
de que águas,
de que matéria
vem tua rima,
se ela é tão rara
e embriaga as retinas
ávidas de pérolas,
e de luz, e de canções?!
Chove emoção com teu verso...
E tua poesia é azeite e lâmpada,
fio e teia, corda e harpa,
asa e vôo, luz e estrela,
água e rio,
pássaro que pousa
sobre o azedume da vida
soterrando espantos
e despertando mitos.
Tua poesia escorre sobre nós
como o orvalho sobre a pétala,
tão leve e cristalina...
Poeta, responde-nos:
de que barro,
de que águas,
de que matéria
vem tua rima,
se tua mão guia, no invisível espaço matinal,
o ritmo e a palavra
que começam a dançar nas madrugadas
envoltos no ciciar da brisa,
a explodir em versos sobre tua fronte?!
Tu cantas, Poeta,
a amargura da vida
com a mesma singeleza com que choras
o amor sonhado, encravado nas estrelas.
Teu é o território do sentimento.
Teu é o infinito que se abre para conter o sonho.
Teu é o canto da saudade
evolando nas asas do pássaro do amor.
Por isso, poeta, vem e dize-nos:
de que barro,
de que águas,
de que matéria, enfim, vem tua primorosa rima?!...

(de ÂNFORA DE SOL)