terça-feira, 18 de maio de 2010

UM POUCO SOBRE AUTA DE SOUZA

Auta de Souza nasceu em Macaíba, no Rio Grande do Norte, no dia 12 de setembro de 1876.

Era filha de Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina de Souza, sendo irmã de dois políticos e intelectuais, Henrique Castriciano e Eloy de Souza.

Ficou órfã de mãe, antes de chegar aos 3 anos de idade e, quase dois anos mais tarde, mais perderia também o pai.

Depois da morte dos pais, Auta e os quatro irmãos vão morar em Recife, com os avós maternos, no velho sobrado do Arraial.

Com 10 anos de idade, assiste à morte trágica do irmão Irineu. Era 15 de fevereiro de 1887. O irmão subira ao andar superior do sobrado com uma lamparina de querosene. Houve uma explosão do candeeiro e Irineu foi envolvido e morto pelas chamas.

Estudou no Colégio São Vicente de Paulo, coordenado por religiosas francesas, e no Colégio São Vicente, onde aprendeu o francês, o que lhe possibilitou a leitura no original de Vitor Hugo, Chateaubriand, Fénelon, Lamartine, dentre outros.

Aos 14 anos de idade, surgem os primeiros sinais da tuberculose. A avó Dindinha, após desenganar-se da cura da neta em Recife, retorna com toda a família para Macaíba (RN).

Auta então, abandona os estudos, indo em busca da cura no interior. O avanço da doença obriga-a a buscar cidades do interior de clima mais seco.


Em 20 de junho de 1900, publica O Horto, seu primeiro e único livro de poemas, que foi prefaciado por Olavo Bilac. Foi tamanho o sucesso que, em sessenta dias, a edição esgotara-se.

A tuberculose, no entanto, não arrefece. Aos 24 anos, no dia 7 de fevereiro de 1901, em Natal, morre Auta de Souza.

Nove anos após a morte da poetisa, em 1910, saía a segunda edição, em Paris, com ilustrações artísticas de D. Widhopff. Em 1936, a terceira, no Rio de Janeiro, com prefácio de Alceu de Amoroso Lima.

Na poética de Auta de Souza, observam os críticos um acentuado lirismo e leves traços simbolistas. Temas como a morte e o universo infantil são abundantemente trabalhados.

Segue-se um de seus belos poemas.

SAUDADE - AUTA DE SOUZA


Ah! se soubesse quanto sofro e quanto
Longe de ti meu coração padece!
Ah! se soubesses como dói o pranto
Que eternamente de meus olhos desce!

Ah! se soubesses!... Não perguntarias
De onde é que vem esta sombria mágoa
Que traz-me o peito cheio de agonias
E os tristes olhos arrasados d’água!

Querem que a lira de meus versos cante
Mais esperança e menos amargura,
Que fale em noites de luar errante
E não invoque a pobre noite escura.

Mas... como posso eu levar sonhando
A vida inteira n’um anseio infindo,
Se choro mesmo quando estou cantando
Se choro mesmo quando estou sorrindo!

Ouve, ó formosa e doce e imaculada,
Visão gentil de eterna fantasia:
Minh’alma é uma saudade desfolhada
De mãe querida sobre a cova fria.

Ah! minha mãe! Pois tu não sabes, santa,
Que Ela partiu e me deixou no berço?
Desde esse dia a minha lira canta
Toda a saudade que lhe inspira o verso!

Depois que Ela se foi a Mágoa veio
Encher-me o coração de luto e abrolhos.
Eu sofro tanto longe de seu seio,
Eu sofro tanto longe de seus olhos!

Ó minha Eugênia! Estrela abençoada
Que iluminas o horror deste deserto...
De teu afeto a chama consagrada
Lança à minh’alma como um pálio aberto.

Quando beijares teus filhinhos, pensa
O que seria d’eles sem teus beijos;
E, então, compreenderás a dor imensa,
A amargura cruel destes harpejos!

Junta as mãozinhas dos pequenos lírios,
Das criancinhas que tu’alma adora,
E ensina-os a rezar sobre os martírios
E a saudade infinita de quem chora.