sexta-feira, 19 de março de 2010

E TU VIRÁS - Giselda Medeiros


É noite em mim...
noite de silêncios e tristezas
a pervagar nas canções dos andarilhos
que não têm para quem voltar.

É noite nas tímidas paisagens do luar,
no ciciar da brisa outonal
e na grande solidão das pedras.

E cresce a noite em mim,
em tudo,
como crescem os ais apaixonados
em seus lençóis de linho
tão branquinhos!
Ou os ais dos que se deram adeus
na tarde que se foi.

Mas não faz mal que a noite cresça...
Acenderei em mim
a branca luz do castiçal do amor,
e tu virás por ela,
entre ofuscado e amante,
beber da minha luz
e ouvir-me os versos que fiz.
Aí, então, cuidemos, meu amado,
que a noite será breve,
muito breve.


(Tempo das Esperas)

TROVAS - GISELDA MEDEIROS



É teu sorriso, querido,
ao se abrir com harmonia,
um sol maior sustenido,
na pauta azul da poesia.



Mentiras... Dize-as, não calas,
pois gosto delas. Deveras,
verdades de amor propalas
nessas mentiras sinceras.



O trovador vai, risonho,
a empinar, com arte nova,
pelos céus azuis do sonho,
as leves pipas da Trova.



Amei-te, amor, tanto e tanto...
Amei-te mais do que pude!
Tanto, tanto, que, hoje, o pranto
é a minha maior virtude...



] Da pátria do amor distante,
sem o brasão dos teus braços,
sou bandeira tremulante
no vazio dos espaços.



Meu amor, quando sorris
e quando me beijam, sábios,
teus lábios são colibris,
sugando o mel dos meus lábios.



Ser mulher é, com certeza,
trazer consigo os poderes
de, na aparente fraqueza,
ser o mais forte dos seres!



Talvez esses ais tristonhos
das ondas, sempre a chorar,
sejam lamentos de sonhos,
presos nas conchas do mar...

(Des)Espera - Giselda Medeiros



O olho da solidão
toca a imutabilidade do espaço.
E vesgo
derrama fogo na silhueta das sombras.
Abandono.
Resta a inércia
queimando sua última pupila
dilatada
sob o ranger de dentes
da inútil espera
que o tempo digere
dilata e dilui
deforma e doma.

(Cantos Circunstanciais)

DEPOIS DE TI - Giselda Medeiros


Depois que saboreei o mel da tua boca;
depois que conheci o afago de teus dedos;
depois que revelei-te os íntimos segredos,
eu ando pela vida estranhamente louca.

Depois de ti, senti que a luz do sol épouca,
que os sonhos não são mais do que longos degredos,
que sou um oceano indômito, sem medos,
que vem beijar a areia em mansitude rouca.

Depois que desvendei o teu mundo submerso;
depois que descobri ser curta esta existência,
eu pus a eternidade em rimas no meu verso.

E quis te dar o tudo, além da brevidade
da vida, que é nada, do amor, que é essência,
para entregar-te, amado, intacta, esta saudade...


(Cantos Circunstanciais)