sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O BRINDE - GISELDA MEDEIROS


O sol esfrega os olhos
ainda úmidos de trevas
e desce para beber o vinho
na taça dos amores matinais
que sobreviveram ao espantoso combate
da noite em sua lascívia.
Amanhece...

Em agonia,
ergo a taça sonolenta do dia
e brindo ao vento,
esse dragão solitário,
que vem deitar em mim
suas promessas de cinza e pó.
Só.

O CORTEJO DO AMOR - GISELDA MEDEIROS


Em passos céleres,
o amor passa por mim
com seu cortejo
de espantos.
Valsas pálidas
choram o Chopin
adormecido
em minhas pupilas
queimadas.

Passa por mim
com seu cortejo
de ausências.
Lento me acena
e passa
sem saber
que, em minhas margens,
deixou tatuada
a forma amorfa
do seu nome
feito punhal
a me cortar
o vazio da máscara.

POEMA DA RENASCENÇA - GISELDA MEDEIROS



Não quero a ilusória cor dos efêmeros prazeres
nem o indecifrável tom das ilusões de ontem
que fizeram adormecer-me a alma há tanto insone.

Não quero saber da lista imensa de deveres,
das apólices do tempo que ruiu sobre nossos desvelos
nem da mineração dos sonhos bons
muito menos da escuridão dos pesadelos.

Não quero provar o doce enjoento dos bombons da infância
tampouco da aflição da estrela azul em sua metamorfose.

Não quero saber do brinde nem da taça
esquecidos sobre a varanda do passado
nem do bulício do vento nas noites baças,
bordando mitos em nossas faces.

Não quero minerar no vácuo de um olhar esquecido
para a recuperação de estátuas mutiladas.
Mas quero, no veneno de um azul, envenenar-me,
injetar-me poesia na pupila adormecida
e renascer, à hora derradeira e múltipla, sem alarme,
de tuas mãos de artista, de anjo e de homem,
como o mais belo poema, que os tempos não consomem.