domingo, 29 de agosto de 2010

SE EU PUDESSE... - Giselda Medeiros



Ah! se eu pudesse ir além das estrelas,
atravessar a nado o oceano inteiro,
sorver os néctares abundantemente
e me tornar a rosa mais viçosa...

Se eu pudesse entrar no teu enigma,
vasculhar teus horizontes submersos,
cantar tua canção
e me inspirar nas rimas do teu coração.
Se eu pudesse...

Ah, se eu pudesse arrancar de mim estes tédios longos,
beber as fantasias que de teus olhos fluem...
Ah! Seria eu a eterna voz dos ventos,
o frescor deliciante das campinas verdes,
o brilho incomunal dos etéreos astros,
a mais romântica canção de amor.

Assim, então, eu poderia te alcançar um dia,
e tu saberias do porquê destes meus versos,
da minha ansiedade, das minhas inquietudes,
das minhas fruições, dos meus desejos reprimidos,
e, em explosões de notas místicas, dir-te-ia meu coração:
"Como eu te amo! Ah! Como eu te amo ainda!"

(do livro Alma Liberta)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

AS PRIMEIRAS LÁGRIMAS - J. Udine - 15-08-2010

Logo ao nascer, para esse mundo adverso,
Levei palmadas p'ra abrir os pulmões:
O Choro foi o meu primeiro verso,
Em dor e lágrimas, aos borbotões...


Minhas primeiras lágrimas, copiosas,
Inundaram o meu rosto edemaciado
Como se fossem perfumadas rosas
Em seu orvalho brilhante e irisado...


Hoje, com o passar do tempo auroral,
Secou a fonte de água, lacrimal,
Que jorrava dos meus piedosos olhos...


O mundo pérfido, com seus horrores,
Roubou-me as lágrimas, e infundiu-me dores,
Ao coração, que sangra em seus abrolhos.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

TROVAS DE GISELDA MEDEIROS



Partiste... e aquele momento,
no tempo, tornou-se eterno
conflito do pensamento
num céu, que se fez inferno...


Beijar-te os olhos quisera,
naquele instante de amor,
no entanto a doce quimera
fez-se um dilúvio de dor.


Nesta existência sofrida
triste certeza me invade:
o sonho ardendo na vida,
e a vida a arder na saudade.


Diante do altar, rezando,
minha mãe chorava e ria...
Era a ternura aflorando
no cálice da Poesia!


Minha saudade, tem pena
deste meu verso tristonho...
Mas não me seques a pena
com que burilo meu sonho!


No cais da vida, à distância,
eu vislumbrei, na verdade,
doce, acenando-me a infância,
com o lenço azul da saudade!


Teus olhos, ardentes círios,
meus dias tornam risonhos;
e tuas mãos, brancos lírios,
vão modelando os meus sonhos!


Entre as águas deslizando,
sem direção definida,
eu vou, qual pedra, rolando
nas correntezas da vida...


Tu voltaste... e a tarde finda
em rubra aurora se fez...
E a velha lembrança, ainda,
acendeu tudo outra vez...

Tu me pediste um sorriso;
eu, somente uma canção...
Te dei mais que um paraíso;
tu me deste a ingratidão!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CANÇÃO DA ENTREGA



Deixa-me assim,
pequenina entre teus braços,
nesta paz de pedras adormecidas
a esperar as águas que virão
do teu mar.
Quero esta paz imensa de madrugada
que faz tremer meu verso,
mais nada.


Depois, o extremo...
Quero o fremir, o grito
que acenderá as luzes de poemas,
lírios despetalados.
Abrir-te-ei minha alma
- a corola -
e nela pousarás qual afoito colibri
na rosa
ao sopro da canção que te escrevi.
Aí, seremos água e fonte
e asas riscando os horizontes.

(do livro Tempo das Esperas)