quarta-feira, 7 de abril de 2010

MOTIVOS - XVI


Sinto-me renascer, se te contemplo,
ó poeta, mesmo quando finges
esse pasmo indefinível suspenso em tua fronte
– espelho que te mostra a lágrima
geratriz de incansáveis solidões.
Inútil o gesto, inútil o grito e a tristeza de Narciso:
o espelho não reflete nada senão a lágrima.

A face te revela o que não queres decifrar:
a inexorável corrida do tempo à espera de ninguém.
Lembra-te, no entanto, poeta,
de que há cânticos celebrando a passagem dos sóis
e o lento alvoroço das auroras
despencadas das paredes onde as puseste
ou o sono dos ocasos dormindo em teus lençóis.

Um comentário:

  1. Continuo tendo o grande prazer e emoção de ao abrir este blogue sempre encontar poemas de um lirismo de fina filigrana de versos em poemas encantadores, de um estética requintada, que denotam bem o cuidado com a pureza poética que a autora coloca no seu labor que caminha sempre para as alturas. E deste nível que a poesia ganha e alcança o belo. Felicitações.

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